quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Por dentro um do outro - pensamento vago de amor inteiro














Meus olhos são duas grutas escuras e escondidas de onde jorra, translúcido, o desequilíbrio de minhas lágrimas. É uma porta entreaberta por onde espias minha alma acanhada. No silêncio da cidade morna, tu e tuas vontades entram pela porta, nos trancas um por dentro do outro. Vejo em tua vida o brilho que ainda me falta, e sinto em meu corpo o calor que ainda não habitava na tua epiderme que agora se arrepia no atrito contemplativo de meus dedos por tua pele. Decidimos nos consumir sem nenhuma objeção ou ressentimento, e simplesmente enfeitar nossos corpos com nossos carinhos e perder as contas dos beijos que sufocam a saudade por infinitos instantes.

Tudo Relicarizado

Ceda,
pois nunca é tarde,
é sempre noite
e a noite é uma criança que brinca
até escutar a voz
o acalanto materno em cada sílaba
convidando para estarem juntos
nos abraços argamassados do lar
A casa não caiu
e não tem nada para ser descoberto
Tudo permanece obsoleto
abundantemente relicarizado
naquelas cenas cotidianas
o café, a TV, o jogo de futebol
o sorriso, o beijo, a despedida na porta
Saudades do meu pai poeta
Saudades de minha mãe boêmia
Saudades de ter saudades do que não conheço ainda
Saudade de perder a rima
e depois reencontra-la sem por que de existir
vontade de implodir minha alma em 1001 pedaços
e depois remonta-la, parte a parte
aprender aonde fica o encaixe
entre sonho e realidade
tudo na mais abstrata concreticidade
como uma cidade que tarda, mais tarde anoitece
mas não para de parecer
com a aparência de viver sonhando acordado

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Branco é triste

As folhas de papel andam brancas por esses lados. Tenho olhado para elas, tão tristes em sua alva e triste condição, e tenho me compadecido de suas tristezas. A mão do poeta não tem espelhado o coração como antes, e sua miserável condição tem angustiado tanto essas pequenas sutilezas de celulose que elas estão vazias, solitárias e brancas.

No mundo poético onde moro atualmente, um pouco diferente dos outros por onde passei, tudo que é triste  é branco. Branco por aqui lembra  imparcialidade, e quem se auto- critica buscando o sentido das coisas, sabe  que ninguém sensato assina compromisso com a aleatoriedade. Branco é o resultado da nossa omissão, por que a alma, a mente e o coração, seja de quem for, não são "acolores", e me soa quase como uma covardia não colocar ao menos um pouco dos três a frente da vida, levar ao menos um dos três estampado no peito.

Há quem tenha vergonha das cores que tem e vive quieto, olhando com certa inveja as cores das outras pessoas. Queria eu entender como os outros usam as cores alheias para ilustrar suas próprias vidas. Eu mesmo não resistiria ao ver algo em mim e logo ser acometido pela lógica mais clara para o momento tão oportuno: isso não é meu! está em mim e não me pertence! não conta nada de mim além da falta de coragem para me por um pouco mais naquilo que espero.

As vezes o que temos é somente um espelho da angustia da qual sofremos: o desejo para uns é impulso e para outros é apenas um analgésico. Essa angustia e individualismo não são puro egoísmo, contudo, me parecem muito mais um cuidado, para evitar que eu procrastine a mim mesmo e me adie para o dia infinito no calendário do mundo, que é mais conhecido como amanhã; E o amanhã parece nunca chegar para quem tem preguiça de viver, e se você não tem essa preguiça você pega! Ela esta no ar, está sentada na sua sala de estar nesse momento, esperando um único e certeiro bote para injetar, por fim, os venenos tão delirantes da rotina, do sonho acordado, das desilusões.




terça-feira, 20 de agosto de 2013

Parabéns sempre é muito pouco

O que se pode dizer a mulher de sua vida quando ela completa mais um ano? Parabéns sempre é muito pouco, e palavras são muito falhas para se mostrar o que realmente se sente lá no fundo do peito, especialmente quando se ama. As coisas parecem ficar mais intensas, mais vibrantes. E como eu sou agradecido a Deus por ter pacientemente gerado e criado com tanto cuidado aquela que seria a minha maior fonte de felicidade desde o dia em que lhe pus os olhos. Há 14 anos, a vida sussurrava no meu ouvido que logo mais eu poderia ser feliz como não poderia imaginar, e eu fui paciente e acreditei na vida, e hoje sei que valeu a pena. No fundo eu sabia que você viria; no fundo eu sabia o quanto especial você era; no fundo eu sabia que se eu não conseguisse chegar até você, você iria ao meu encontro, e nas trilhas aleatórias da vida nos encontramos e nos reconhecemos no bater forte do coração, na respiração, no toque carinhoso das mãos dadas, e vi que o meu para sempre combinava perfeitamente com o seu.

É impossível não se apaixonar por você; É impossível não se contagiar com o seu sorriso, com o seu carinho, com seu jeito próprio de olhar a vida e conseguir o que quer com toda desenvoltura, docilidade e gênio forte de uma mulher que está aflorando suas emoções. É lindo ver você crescer, cada vez mais ser dona de mim, e eu apenas me deixar levar por que já fui conquistado por completo, de tão especial e única que você é aos meus olhos, e provavelmente aos olhos de muitos dos que te amam.

Eu não te vi nascer, nem crescer, mas vi você gerar em mim a coragem e o amor que hoje me leva a escrever essas mal escritas linhas, mas sinceras. Esse “filho” chamado amor e que temos tanta veemência para chamar de nosso, ontem fez um ano de vida, e vida feliz. Olhando pra ele, vejo o quanto você é perfeita, especial e hoje morro de alegria por ter você: minha, inteira, eterna. Te amo.

domingo, 4 de agosto de 2013

Pra cada coisa, um pouco de mim

Eu tenho um pouco de mim 
Pra viver um pouco de cada coisa
Pra trocar a roupa da loucura
Pra me embriagar de infernos e canduras

Sou completamente heterogêneo 
Feto amado da transição dos milênios
Sou feriado curto pra pensamento longe
Por que perto do homem só existe o dispêndio

Quando meu olhar repousa
Eu reavalio a realidade das coisas
E ela ecoa longe do meu pensamento diário
Distantes de mim como as almas ditas boas

Eu não sou sujo, nem limpo
E nem me agrada ser meio termo de estado
Eu olho de cima, desassombrado
Vendo diluir-se , verdades e fatos
No copo d'agua do meu dia a dia
No ácido forte da minha poesia



quinta-feira, 18 de julho de 2013

"Liquefeições" de sentimentos

Me embriaguei do que sobrou
Dos nossos sentimentos liquefeitos
Se desfazendo entre os meus dedos
Com medo de um talvez futuro que não chegou

Nós não esperávamos nos ver
No reflexo triste de uma lagrima de até
E agora seja o que Deus puder

Fazer por quem não sabe querer entender

O amor chegou não sei aonde...
Onde é que o amor se esconde mesmo?
O amor que eu senti suspenso no beijo
É o mesmo amor inteiro pra ontem?

Faz tempo que eu não vejo
O sereno da chuva cedendo pureza
Fervendo em suspiros contra  a correnteza
Sufocante do desejo

E a culpa é de quem? É pra alguém?
Se o tempo passa na parede alva
No revestimento celeste de minha alma
Eu entrego esse descontentamento pra quem?

Destilar! Desentoar o afeto escondido
O insubstituível grito de alarde silencioso
O insistente movimento ocioso
De repetir sem medo: amo-te
Os lábios entrecerrados
Revestido completamente o sentimento
Despido. 



segunda-feira, 8 de julho de 2013

Feito Sobre medida


Eu precisei um dia descobrir o que eu era
Não tinha manual de instruções no bolso
Contando de onde vim, por onde havia uma porta aberta
Pra vagar um pouco mais longe desse desconforto
Tão existencial quanto comer pela manhã
Cantar pela tarde,
e a noite chorar com a mão no rosto

Eu tinha saudade não sei do que
Queria correr não sei pra onde,
E gritar teu nome tantas vezes no silêncio
De simplesmente não saber onde estavas,
Quem eras,
Quantas eras até saber que a resposta
Era uma simples proposta de ser por inteiro

E você me olhou de longe, de lado
O corpo tremeu diferente, e dessa vez era o acaso
Sussurrando no  meu ouvido: para de olhar pro umbigo!
Olhar ao redor , olha o que a vida tem de melhor pra te dar
E no teu olhar que refletia minha silhueta
Eu me enchi de toda a certeza do mundo pra dizer:
Sou um espelho, feito sobre medida pra você

E você me olhou, sorriu meio sem força
Chorou como quem se esforça
Não precisava mais ensaiar seus monólogos desfoques,
Seus distantes devaneios de fim de tarde
Era hora de um pouco mais de verdade na vida

Eu vi o destino abrir a cortina sem esperar
E lá estava você, de frente pra mim, tão simples
E eu espelho arranhado, faltando uns pedaços
Me achava o melhor de todos ao ver refletido em mim
A silhueta mais linda, as atitudes de amor escondidas
Me tocando o vidro dos olhos,
olhe! É você agora em mim.



Nem só de pão vive o homem, mas de amor e sonho

Eu e te olho de longe, debruçado
A varanda vibra um pouco nessa tua alegria presa
E no silêncio de um sorriso desinteressado
Brota o acaso nosso de cada dia

Aos poucos envelhecemos, no olhar
E deliramos em febres tenras de fim de tarde
Dormimos entre a relva, a neblina e a saudade
E acordamos molhados de orvalho e carinho

A insônia na madruga me tirou da cama
E te olhando, eu e ela, fizemos algumas rimas
Alguns versos rabiscados com as cinzas
Do incenso que queimou a semana inteira

Adormeci sozinho no canto do quarto
Na companhia muda de um copo de café requentado
Te olhando, te admirando, te amando
Enquanto o sono entrava e tirava de cena o cansaço

Adormeci e sonhei acordado,
O vento entrava e se deleitava nos poros que eu juro serem meus
Tal qual olhos fixos no teu céu
No céu lá fora da janela que te acorda devagar

O teu olhar enche a casa de novo de vida
Os raios de sol, junto com teu olhar, agora me tocam, me seguem
Vou abrindo as janelas, você me abre um sorriso
É um novo dia pra lembrar

Talvez amanhã, assim pela manhã
Ou pela tarde, perdidos na cidade a gente pense
Em como é bom ser do acaso, dos abraços
Ou talvez sem pensar, você deixe a vida gritar
Nossos motivos, entre escândalos e gestos
E procure paz junto comigo depois de caminhar domingo
No meio da chuva, no meio da rua,
Da felicidade de ser sozinha comigo,

Chamar o corpo um do outro de abrigo, amigo de longa data

terça-feira, 25 de junho de 2013

O trem já passou (Coisas que escrevi ouvindo Raul Seixas)

Eu tenho olhado teu silêncio de longe, cada vez mais te levando pra não sei onde, e eu não sei se tenho que ir pra outro lado ou agora é hora de ir contigo de vez. Teu jeito de ser só tem deixado incógnitas, nenhuma certeza, nem que seja a metade de uma meia verdade qualquer. Assim fica difícil até pra encontrar naqueles mesmos lugares de sempre um pouco do que você é, fica difícil encontrar qualquer rastro ou pista do que já havia dentro de cada pensamento teu. Só tenho agora você e essa distância próxima demais, um jeito absurdo e confuso de sentir que chega a me deixar com medo as vezes.

Tudo que havia antes já passou, todos os sonhos perderam um pouco do sentido e a poeira baixou. Finalmente somos nós a sós, e talvez a gente fique assim mais um tempo antes de dizer até nunca mais. É mais complicado do que parece, mas nem todo mundo vai conseguir nos entender. Amarmo-nos tem sido a cada dia um crime, que como todos os outros, nos enche de prazer ao fim de tudo, mas nos deixa tensionados ao logo dele. Com a alma dormente, a gente vai vivendo cada instante como se esperasse algo a muito tempo, ou alguém.

Eu sou sincero comigo, contigo, com o mundo que nos assiste da grande arquibancada dos desenganos e acasos: não posso mais esperar muito tempo, por algo que eu não sei ao certo se você vai me dar, ou esperar parar ir com a você a um lugar que talvez eu tenha que ir sozinho. Eu queria agora me perder contigo como antes, me perder em você como dois amantes, entre caricias e palavras sinceras, mas talvez eu tenha que passar mais outro dia sozinho vendo o sol raiar por entre o vidro empoeirado da janela e meus olhos cor de insônia.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Não diga que volta

Vem sem prometer a ninguém que volta. As rotas por onde eu vou nem sempre me permitem repensar, e é preciso força pra fugir da forca da rotina e ser livre ao acaso. Eu prometo sorrisos fartos no teu rosto, mesmo que custem os mesmos, afinal, já estou acostumado a pagar esse preço, mas por favor não prometa a ninguém que volta! Não diga até logo, por que comigo as vezes não iremos voltar, e noutras horas eu não poderei alimentar minhas vontades. Eu sempre serei assim, meio errante, e duvido muito que eu possa mudar algum dia. Você não precisa ser como eu, conheço o seu ritmo e mesmo de longe ainda sou sempre seu, e eu sei que você sabe me alcançar, e faz isso mais do que ninguém. 

Não deixe a porta aberta e nem guarde no coração a vontade de voltar na hora certa: a nossa hora é a gente quem faz, e o relógio não pode andar pra trás. Em cada passo, deixe um pouco da saudade, e quando se der conta, estará livre o bastante pra seguir adiante como eu, mas você não precisa seguir meus conselhos, logo eu que sigo mais você do que eu mesmo. E eu nem sei que horas são agora, se faz calor ou a chuva de dúvidas vai molhando a terra, mas as nossas pernas já se confundem tanto, que somos um, andamos para os mesmos lugares, e as paisagens que eu já vi eu vejo refletidas na retina do teu olhar que me pede um pouco mais de paciência. Como é bom ter a alegria indiscreta de dizer: não caminho mais sozinho. 

quarta-feira, 29 de maio de 2013

A fonte dos teus olhos

Quantos como em mim, os sonhos
Não querem enfim se enxergarem reais
Sobre o cuidado sereno dos teus olhos negros, dois cristais
Soerguidos na tua face, que resguarda os teus ares risonhos

Os mesmos olhos que já vi de tão perto, dentro da alma
Mirando-me tão intensamente que o desejo lhe embaçava a vista
E me lia as vontades no peito a ferro escritas
Como feridas de um tempo sem calma

Sereno pairo o meu olhar no teu
Num movimento louco quero ver tudo que é meu
Refletido dentro da retina tua 

E na minha pele tua, arrepiadas
Nossos olhos se fechem e eu possa ver donde deságua

As palavras doces e inebriadas
Que leio no teu corpo inteiro,
Mãos, bocas e seios
Olhar de duas negras esmeraldas, brilhando envolvidas
De chuva.



quarta-feira, 8 de maio de 2013

As ondas intrépidas de minhas horas

E meu olhar naufrago se cala
o vento sopra, passa e vai longe
a ancora de minhas pernas me prende
e não mais que de repente, 
eu, tão displicente, parada olho
as jangadas na praia, aos naos desalmadas

Quantos perigos meu coração sofre
preso ao teu coração corsário e poeta?
já não sei a hora e nem a direção correta
mas deixo-te sempre as portas dos braços aberta
para que um dia, que sabe no talvez, eu embarque contigo, sem demora
e me perca contigo por entre as ondas intrépidas de minhas horas

Enquanto não retornas ao porto
eu na espera me esqueço longe da realidade
e quando tento me desvencilhar das lembranças
a saudade novamente me encanta, me canta e seduz
e cheios de lagrimas e sinceridades, feito crianças
meus olhos esperam de braços dados com a esperança
a truz dos teus passos, 
teu jeito desvairado de justificar minhas lembranças

Danço no crepúsculo calmo o ritmo das marés
e no fundo eu ainda sei quem és, quem não és,e o que ainda sereis
por que ontem fomos dois, hoje sem ti também somos
e quando chegardes para fazer do meu sonho realidade
verás que na verdade
já somos três. 

E se um dia cansada, vir que não voltas
deixarei minhas lagrimas diluírem nas águas
que rodopiam na terra e tocam tua proa
e evaporadas na chuva, tocarão tuas roupas
assim ei de sempre cuidar de ti, mesmo de longe
me embriagando na angustia, curando a saudade
olhando o mesmo horizonte toda tarde
por que mesmo em silêncio, meu coração grita
minha razão o consola, mas é sempre a mesma frase repetida:
é certa a hora da chegada, tal qual foi a da partida. 



sexta-feira, 3 de maio de 2013

Escuro foi feito pra Pensar

No escuro eu vejo as coisas que eu faço questão de não lembrar
vestindo a vida pelo avesso
eu deixo o medo perto do peito
e deve ser por isso que meus olhos
vivem mais fechados que abertos
é o medo do talvez, concreto
de ver que não estou do lado certo

No escuro eu me sinto seguro
ninguém me vê, ninguém me julga
certo e errado são ilusões que todos valorizam
mas parecem tão menos reais quando fecho os olhos
a duvida consome os pensamentos
reivindicando para si todos, gulosamente
deixando um rastro de lembranças entorpecentes


No escuro os meus olhos brilham, acesos
pensando nos detalhes, nos "poréns" da vida
por que noite, escuro e banho foram feitos para os pensamentos
e o vidro embaçado pela chuva, na verdade
é quadro negro pra rabiscar e por em dias os sonhos e os desejos

No escuro o relógio "TIC-taqueia" sem parar
e o dia começa novamente a contar suas horas
enquanto me reviro de um lado pro outro da vida
passamos um pouco de ontem, e temos pouco de hoje
o relógio grita compassado na cozinha
a mente não aguenta e num ultimo tiro de misericórdia, se desliga
e estão é o escuro novamente
são os olhos fechados novamente:
Fim do ato.

Texto feito em parceria com o amigo Dantas Júnior

terça-feira, 30 de abril de 2013

Filosofo de Subúrbio


A prisão de liberdade me deixa muito a vontade pra pensar em ter futuros. O meu azar talvez já esteja pré-definido, e o melhor agora talvez fosse aceitar essa coisa que chamam de destino, e viver essa vida mais ou menos. Talvez o contentamento seja um analgésico muito forte, que só deveria ser receitado pra pessoas sem muita vitalidade na alma como eu, ao menos agora. Eu me entreguei demais em muita coisa, e agora confesso que resta pouco de mim pra contar a história; Falta sentido na vida, que alguma hora
dessas já teve mais sentido do que agora.
Às vezes me da vontade de trocar os sentimentos de lado, de cogitar a possibilidade de levar uma vida regada a futebol no domingo, trabalho, gordura localizada e estresse, mas é simplesmente querer diluir num copo d’agua uma salina inteira. Eu nasci, simplesmente, pra ser estranho, e isso talvez seja o que eu mais gosto em mim. No rosto uma barba a fazer e nós pés um chinelo de dedo: eu sou o clássico filosofo de subúrbio, uma voz a mais fazendo baderna nas esquinas, olhando fixo pra além de todas as casas e pessoas, como se houvesse um além que só a mim pertence. Eu sei que é só sonho, e o que eu ainda posso chamar de meu carrego por baixo da pouca carne que tenho no peito: um coração batendo sem ritmo, sem compasso, bombeando em minhas veias esse jeito pessimista de olhar a vida.
Arrumando o meu quarto um dia desses, encontrei as minhas meias perdidas: as minhas meia-verdades. Foi o bastante pra que eu lembrasse o quanto era indolor viver a vida no automático, deixar as vontades sinceras vegetando por um desses corredores da vida que a gente só passa uma vez pra nunca mais. Minha vida é desnaturada demais, e a culpa é completamente minha e desse meu jeito displicente, mas não tem mais como voltar atrás e eu também não quero voltar atrás. O passado, ao menos o meu, tem muita dor e incômodos, e como eu não consigo me contentar tanto assim, melhor evitar. O ferrão que tiro do dedo, pode não machucar como antes, mas continua sendo um ferrão e pode machucar. Da mesma forma é o meu passado: eu já o superei uma vez, mas não sei se conseguiria superar tudo uma segunda vez. 

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Eu sei que chove


E agora chove
Eu sei porque tem chuva no meu cabelo
Tem chuva na minha mão
Tem chuva na minha roupa
Tem meu cachorro molhado na chuva
Tem pedaços de livro de autoajuda
Tem o lençol de papelão se rasgando
Por baixo da goteira no telhado de Brasilit
E eu faço uma prece a Deus
Minha prece diluída na água fluida dos meus olhos
Há de encontrar-se com as aguas, que um dia
Voltarão para o céu
Meu irmão mais novo chora com medo dos trovões
E no clarão do relâmpago ele vê meu sorriso e se acalma.
Com meu irmão enlaçando minha cintura com os bracinhos finos,
Olho pro horizonte cinzento da avenida
Está tudo escuro, tudo quieto, tudo morto como eu de vez enquanto
Ponho a mão no único bolso de minha calça que não é furado,
Coço os pelos no rosto, pensando na vida
Penso em sina, penso em morte, penso em ter sorte
Mas eu só tenho fé, só tenho pé na estrada
Corpo na chuva, barriga na aridez da miséria
E é só uma chuva, como todas as outras
Muitos dormem tranquilos, e eu, molhado.



segunda-feira, 22 de abril de 2013

O que veio na alma

Eu fico aqui, deitado sobre esse chão bicolor
E a vida parece ter dois lados
tal qual as duas lâmpadas no teto,
as portas trancadas do meu quarto.
Os meus discos rotacionam viciados
e as lembranças afinadas ressoam
sorriso a sorriso, lagrima a lágrima.
As vezes suspiro tão fortemente que os alicerces abalam
O coração está vazio,
e o vento passando por dentro de cada espaço
parece tocar um epitáfio,
uma canção de adeus e amor maior;
E eu me questiono
se não deveria estar lá e não aqui
vivendo noutros vãos vazios
cheio de muito nada.
É a estrada infinita dentro de mim,
e tem alguém que sempre vem quando eu volto.
De talvez em talvez a minha alma esquartejada
vira peça de exposição, talvez de artes;
E a felicidade enquadrada numa tela de outdoor brilha e me convida
pra qualquer lugar do outro lado da cidade
onde as luzes parecem não se apagar,
mas não há luz que ilumine as almas daquele lado.
Se não houvesse essa luz, eu não precisaria dessa máscara,
e sem essa mascara não sei mais quem sou,
só quem estou.


quinta-feira, 21 de março de 2013

E eu, homem feito, tive medo e não consegui dormir...

Pobre de mim que fui agraciado com este dom inconveniente de ver o tempo passar. para mim, distante de ser um dom, isso me é um espinho transpassado na carne. Eu juro que sinto a flor da juventude fenecer na palama das mãos do acaso, e sozinho como sempre fico, vejo o filme da minha vida passando e, infelizmente, simplesmente pedir pra parar.

Ontem os carrinhos de plastico corriam por entre as cadeiras, armários e estantes de casa, mas hoje em dia, a minha pobre mente limitada sonha com um carro na garagem, tal qual a maioria das pessoas que conheço. Os sonhos ficam mais curtos e mais negociáveis quando se cresce, ao menos esta é a minha impressão.

É tanto problema que, às vezes eu fecho os olhos, levanto a cabeça, levo as mãos ao rosto e encontro uma barba rala, mal feita e mal resolvida, tanto quanto a minha vida. se a vida é um carrossel colorido, já estou zonzo de tanto girar, e quero sentir meus pés tocarem o chão; e encarar a vida a grosso modo mesmo.

Corre! Cresce! Estuda! Trabalha! Cansa! Dorme! Ama! Desiste! Acredita! Reconhece! Pensa! Questiona! Silencia! Engole calado mais um sapo! Equilibra a alma e se alegra, por que nessa vida só não é louco quem não deixa de sorrir... Não! Eu quero gritar, chorar, olhara para trás e ver que também tenho vontade de voltar, de esperar coisas que não pude esperar.

O tempo passa, a barba cresce; Crescem os problemas, cresce a felicidade; Tudo cresce, e consequentemente, tudo gira. Eu vou, eu volto, eu fico: eu sou mais que o tempo, mais que uma barba grande, mais que os problemas grandes e as grandes felicidades. Eu não sou nada, mas estou todo em tudo.

domingo, 17 de março de 2013

Há de haver um tempo em que seremos mais felizes juntos...


A tarde é a vontade do dia e da noite se encontrarem, e no encontro o coração entardece junto, fica calmo: descansa! Talvez o amor que a gente sente seja a tarde que a gente precisa, com um corpo no outro, rio e pôr- do- sol.

Eu me encontro em você, você em mim, e de tanto fugir dos outros a gente sabe onde encontrar conforto. E por entre juras de amor, abraços onde gritam todos os nossos sonhos e nossos desejos.  Corpo, alma, e corações fervem em nostalgia... E de repente tudo silencia! Os nossos lábios colados cantam suas canções de amor pra sempre, sem nenhuma pressa de enfim se tocarem no beijo, pois sabem que no amor, para coisa que se deseja, a alma guarda um pedaço de eternidade.

O amor da gente talvez seja um poeta num barco qualquer a beira-mar, cantando versos de vontade e amor sincero. A gente se olha e eu te toco com carinho o rosto, deixando minha mão descer sobre ele enquanto o sol se põe na nossa frente, enquanto o amor se põe mais na gente. De repente, ficamos sonhando juntos, pensando no futuro, na vida a dois, e futuramente, a três, por que não?! É impossível não sonhar ao teu lado, e ainda mais: é impossível não acreditar que meus sonhos não se tornarão realidade. Acaso não era esse teu amor um sonho que guardei até o momento certo? Se for assim, tenho todos os motivos pra acreditar nos sonhos.

O amor da gente realmente tem esse cheiro de sonho, de eternidade. Parece até que, de uma hora pra outra, alguém fez um resumo de nossa vida e assinou no final: para sempre, com carinho. 

Além do alento das lentes

Uma boa parceria com o amigo Alison Souza do Blog na vez da vida

Por entre lentes translúcidas
que o frio, por capricho, embaça
vejo as cores refratadas nas asas sintéticas
da retina que surge delineando os anseios

Formam-se imagens desfocadas
que não se aproximam ou se afastam
e trêmulo paro em medo
de uma sombra que desconheço

Nem mesmo o semblante fala mais alto
o teu olhar, mesmo que tímido, mesmo que afoito
é a porta de entrada para os teus segredos
e cano de escape perfeito para os teus delírios

Sob sua atmosfera, vi reger meu pulso errante
ao falar como um mal fático
turvo olhar me admirou
sendo essa assinatura que em ar se projetou

Estou preso no pulsar da tua retina
sensível ao enfoque luminoso e deletério do desejo
que fala no corpo, que enrubesce o rosto, deixa-me alheio a mim mesmo
um mergulho na luz da densa neblina entre nós

Assim me separo de ti
e vou em busca de algo além das lentes
busco muito além daquela luz
que ao fim do dia se faz ausente


sexta-feira, 1 de março de 2013

Pra onde a saudade nos leva

A saudade é um bilhete de embarque para o reencontro. Eu creio que a saudade é coisa pra quem ama, e em demasia; e quem ama não se perde, por que a saudade é o letreiro luminoso dentro da alma. Eu olho fixo. Cores vibram no neon das lembranças: eu olho várias vezes e o seu rosto está sempre lá. 

Descanso meu olhar em volta, no aconchego do ser, e percebo o bem que faz ter para onde voltar: já devo ter sentido algo parecido, mas há mais detalhes e singularidades nisso tudo do que simples equidades. Eu silêncio. Não há mais gritos na minha mente, a não ser tua voz cativa que repete sobre meus ouvidos teu mantra favorito: eu confio em você.  

Procuro meu coração, mas encontro o teu no seu lugar. Acho que essa é nossa única competência no amor: enxergar o outro por dentro. Se amor é isso, é compreensível que se necessite de tempo, afinal se o coração é complexo, imagine o coração alheio?!Há quem leve alguns dias, e se não conseguem, esquecem de tudo: a esses chamo de fracos, e ponho muita pouca fé de que aja amor; Há quem leve a vida toda, e mesmo assim não desistem: admito que poucos homens na vida têm esse coragem, e creio que o amor não possa ser mais sincero que isso. 

Se a estrada da distância é escura, se há amor, há também o neon das lembranças e o aconchego de se estar um pouco consigo mesmo. Quando se está perdido, sempre se pode ir para onde a saudade nos leva: é sempre onde o nosso coração está. 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Espelhos de Celulose


E lendo livre,

O livro lívido vive.
Dentro do seu intimo, Eu estive preso
Comendo as vontades e os sonhos.
No cárcere da liberdade,
A saudade me olhava aflita num canto qualquer
E a curiosidade com o olhar sempre fito no horizonte além-grades...
Quantas vidas, quantos braços me rodeando,
Quantas mãos estendidas me convidavam a viver parcelas de eternidade,
E eu sem saída me entreguei e ainda me entrego.
Deixo sumir da visão da alma todos os pontos cegos da minha razão
E fujo pra longe, no mesmo lugar correndo pro nada.
Sozinhos nós sonhamos e acreditamos em muita coisa: 
Eu, algumas páginas amareladas e as letras despojadas sobre o papel,
Convidando meus instintos a se consumirem. 
                           -Vamos sonhar!-  Grita uma voz por entre as páginas.
                           -Já estou indo! -Grita a minha alma se debatendo de tanta felicidade dentro do corpo.
E novamente os braços me envolvem, as mãos se estendem, me sufocam:
Eu morro na realidade que é minha,
Vivo na realidade alheia que também é minha; 
Minha alheia realidade, realidade alheia minha! 
Eu olho nos teus espelhos e me pergunto: quem sou?
E eu mesmo respondo: sou tudo que quiser. 

Antropofazeres

Meu corpo se esgueira
por um corredor tropical a meia-luz
carrego minha cruz, sem força
fujo da forca, perco a cabeça

Entre praias e estacionamentos
vivo com neo- nômade de sentimentos
discernindo o tudo do nada
as ruas escuras, as luzes acesas,
as portas fechadas

Quanta ânsia! quanto sonho!
quanta vontade brotando as 4:30
por entre a multidão incontável
que tenta levar a vida de bom grado
sem esquecer da sorte, da morte
da sina

O homem grita no centro, no cerne
e de tão cego não sabe pra onde segue
"Antropofazeres" de proletário, de produto escasso,
que não sabe pra onde segue

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Eu posso Sim


            A única saudade que não tenho é a saudade de ter saudade, pois essa em mim, por motivo de força maior que minhas vontades, é uma constante em meu cotidiano. Tenho saudade da minha infância, tenho saudade dos amigos, tenho saudades do amor, tenho saudade de tempos e de lugares. Em mim, há uma constante ausência, pareço nunca está satisfeito, e tenho por mim que satisfação é um sentimento muito perigoso para algumas pessoas. Há quem busque na satisfação a falsa ilusão de estar tudo bem, de ter alcançado tudo que se quis, e isso é falho e desgastante, por que é mentir para si mesmo.
            Se me é viável, e se isso não fere vontades e esperanças alheias, eu posso sim não me sentir totalmente saciado, totalmente satisfeito; eu posso sim querer mais de mim, de você, de nós. Eu posso sim querer que a coisa mude pra melhor, seja lá onde seja isso, mas eu posso e quero. Eu quero e posso provar das coisas boas da vida, mesmo que eu não saiba que gosto tem esse negócio de bondade, e nem preciso saber: certas coisas se completam em si mesmas.
            Cada vez que eu penso que estou cheio, estou completamente vazio, no entanto, o contrário também é válido, e quando estou me sentindo vazio é que me encho mais de esperança, de sonhos, e os sonhos de tão leves que são nos levam para longe do nosso antigo eu, o de parte dele que decidimos deixar para trás: a vida é isso, encontros e despedidas, até mesmo entre nós mesmos.
            Eu já fiquei pra trás, eu estou aqui e já estou lá, longe até mesmo para o tempo enxergar, e mesmo assim ainda é pouco tempo pra ser tudo que eu quero, mas, ei de me deixar para trás e me lançar no futuro muitas vezes para multiplicar minhas chances de mudanças, e não me deixar ficar estagnado vendo a barba crescer, sentir minha voz engrossar, minha coluna doer e os remédios se tornarem frequentes tanto quanto os médicos. Eu estou nesta folha de papel, eu estou nestas palavras sinceras: eu estou em mim e nele estou eu.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Salve Pátria !

Salve a pátria, salve a prata
Salve o ouro de tolo nas mãos do tolo
Que não vale ouro

Salve a pátria, salta e aponta
Salta pra ponta do dedo que acerta
A testa de quem apronta

Salve a pátria, salve a conta do patrão
Me Embale meio quilo, bem farto
De dinheiro bem lavado, de corrupção

Salve a pátria, dai-lhe parabéns
Dai-lhe tudo que tens
O que tens pra ganhar e o que ainda nem te convêm

Salve a pátria, a palhaçada
A micareta fora de época, o suborno nas horas certas
O picadeiro nas arquibancadas, congressos, bancadas

Salve a pátria, patriarca, paralítica
Salve a nação da política preguiçosa
Que não estende a mão por tanta gente corajosa

Salve a pátria, o point do momento
A casa high- tec do preconceito, do pressuposto
Manjar e deleite não para seus filhos, mas pra todos os outros
Salve a pátria, a alfabetização ainda nos falta
Nos falta a água que nunca chega, e o povo se queixa
O povo se deixa seduzir

Salve pátria sempre minha, sempre mina
Por onde caminham sorrateiros eu e os sonhos alheios
A resistência por tantos leitos

Salve pátria, culto da bola
Salve a pátria que nem sempre se salva
Quando o barraco rola no barranco

Salve a pátria, senha mãe de todos os bancos
De tantas palavras bonitas, palanques e planos
Que não passam de uma folha em branco







sábado, 5 de janeiro de 2013

Dubitare Nostrum Quotidianum

Eu preciso me encontrar mais uma vez
É fato que ando perdido, desnorteado
Conheço-me mais que qualquer outro
Que um dia eu quis tentar ser

Se eu soubesse  o que sinto, não escreveria
Minha poesia é feito espelho de minh'alma 
Nela enxergo as coisas dentro de mim
Se que revolvem frenéticas, como náuseas 

Dubitare nostrum quotidianum, a permanência
A ausência frequente da presença alheia 
Eu sou o que escrevo e o que não consigo escrever
Eu sou a suma descrença dos sonhos particulares

talvez eu ainda seja um feto prematuro do destino
homem nos atos, menino nas vontades
inesperado nos sorrisos, burocrático nos gestos
com o coração escancarado pro lado de dentro

Ttalvez eu já seja velho protótipo de vida
Comendo pelas beiradas, beirando os dias como se fossem madrugadas
E eu perco a noção do tempo
Eu perco a salvação e ganho os medos

Talvez, porventura, possivelmente
A minha vida ainda se resume nas condições, nas esperanças
Mesmo eu já tendo perdido um pouco disso
Mas é incrível como é grande em mim a certeza
De que essa santa que salva corações e almas, chamada esperança
Só morrerá comigo, pois sempre foi comigo, e no fim, também irá 


terça-feira, 1 de janeiro de 2013

aquarelando meus sonhos

Que cor tem o meu sonho?

talvez tenha a cor das minhas lágrimas.
Eu sinto que no fundo são duas coisas totalmente ligadas
Eu sinto que ele tem a cor que eu lhe ponho

Sonho da cor do céu, da cor do seu
Sonho de voar alto sem medo de, talvez, cair
Sonho de desbravar todos os mares e descobrir
Um sonho da cor do meu sonho que é teu

Sonho da cor das folhas, sonho feito rolha
Guardando dentro de si toda a minha embriaguez
Sonho de se encontrar intimamente com a sensatez
Sonho de viver com intrepidez minhas escolhas

Sonho de cor vívida e áurea
Talvez da cor de vida, da mais valia esperada
Cor da alma tantas vezes leiloada
Nas exposições de ilusões e emoções amordaçadas

Sonho de cor rubra, feito rubrica
 Feito assinatura antiga na hipoteca do destino
Feito as marcas que a vida me deixou de quando era menino
As aventuras tão desnecessárias, mas líricas

Sonhos feito a rosa púrpura, feito coisa pura
Feito vinho tinto atenuando os sentimentos
Curando até os mais profundos ferimentos
Fazendo o sonhador perder a compostura

E talvez não tenha cor de nada, de nadar
Muito além da corrente de vontades e motivos oportunos
Chorar por pura conveniência, chorar
Sem que o rio de minhas lágrimas seja tão profundo

Eu choro pra diluir o peso das pessoas, destilar a cor das coisas
Que se prendem no fundo da minha alma
Cada gotícula de lágrima é uma tentativa desesperada
De ficar livre, vazio, pra me preencher das minhas sempre constantes necessidades loucas