quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Da vontade de amar a si mesmo

E se você tiver coragem, a gente pode ir pra onde você não quis mais voltar,
e eu juro que se você não conseguir seguir em frente a gente para, 
mas se você conseguisse ir mais além, eu juro, quase nada seria tão incerto.
O esquecimento jamais será uma cura, somente um analgésico que com o tempo vai perder o efeito,
e mesmo as coisas mais escondidas nos fazem mal, nos tornam secos.
Eu sei que algumas marcas ficam, mas as dores podem evaporar com as lágrimas
e as cicatrizes podem nos contar os dois lados de uma mesma história.
As sementes germinarão sempre em direção a luz,
e se nada floresce, se nada deslumbra,
é por que existe algo brilhando, por menor que seja, dentro das nossas almas.
Conhece-te a ti mesmo!
Mesmo que estranho, insistir parece ser um remédio adequado a dor
e viver amando parece ser um jeito virtuoso de viver;
E mesmo só tendo certeza da própria existência, e assim, só podendo conhecer realmente a si mesmo,
ainda temos dificuldade de encontrar algo bom em nós:
os outros, as ilusões, as idealizações, parecem mais agradáveis ao espírito.
Há coragem em querer saber o que se é,
e mais coragem ainda para desenterrar baús antigos;
Há quem insiste em ter um amontado de entulho ou um ferro-velho dentro de si,
mas seria mais saudável para todos nós se ao invés do velho tivéssemos o antigo;
Se no lugar do simplório nós tivéssemos as particularidades;
Se no lugar de um aterro tivéssemos dentro de nós um antiquário,
desses que ninguém conhece, mas se encanta por que é singular - o que não implica em ser maravilhoso;
Desses que poucos conhecem e, se conhecem, é por que alguém os levou até lá - porque é dessas coisas que não se descobre sozinho: 
Só entra quem a gente quer, só ficam até enquanto quisermos,
mas não machuca, não assusta, não desespera, pois são normalidades e trivialidades da vida. 
Nada de extraordinário mas também nada de ordinário e vazio:
um pouco de nós mesmos para nós mesmos e para quem quisermos.
Vale a pena perder o tempo quando tivermos algum para perder: 
a vida é rara e demoraremos uma vida inteira, talvez, tentando entender certas coisas, 
mas a dúvida não deve causar dor, apenas encantamento. 




sexta-feira, 17 de outubro de 2014

reflexões poéticas #Nº1

Algumas mal traçadas linhas para poetizar minhas manhãs, 
(17/10/14)

Sou forasteiro de mim mesmo
em uma caminhada cheia de coisas vazias
não sei do que eu gosto, do que desgosto
não sei se eu fui, se vim: eu estou apenas indo
admirando as inéditas repetições
com os seus detalhes ignorados
revendo as novidades que no passado ficaram sem revelação
é uma grande refazenda do incriável
uma paisagem interminável dentro de cada afinidade
e um olhar distante ... 
apressado por desconhecer tudo aquilo que há dentro de mim
com vontade de ser perdido, de sentir dor até não saber descrever
e ser feliz por não saber definir-se, nem em seus pequenos desejos humanos
se desconhecer, se esquecer
dormir em paz sem questionar sobre nada nesse mundo
dormir dormente ao ponto de não sentir a própria existência 

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Sobre o destino das palavras e do poeta

Cada palavra entre nós
viaja agora no infinito do ar
e há de encontrar outro infinito particular,
e há de desfazer os nós,
os eus,
a quinta parte de nada que cabe de mim

E cada palavra eternizada, cada risada e sorriso falso
vai ecoar além das nossas existências
vai ressoar nas incontingências da vida
Vai resvalar nas feridas, nas perdas,
nas avenidas e nas tristezas
nas promessas e nas aparências.

Restará por fim o silêncio da despedida,
a alegria contida na ausência dos sons,
a lágrima que cala,
que põe sentinelas nos nossos lábios

Restará por fim a noite,
um pouco da dor do mundo,
uma indiferença pelo profundo
e uma alegria rasa
de quem faz poesia pra submergir
na poça d'agua da existência

Que um dia vai evaporar
no calor do vento da morte
e como peixes fora do aquário
vamos nos debater e transitar para o infinito
de onde as nossas palavras vieram
e aonde vamos novamente encontrá-las

O vento que trás a poesia ainda há de levar o poeta

domingo, 24 de agosto de 2014

Entre os lençóis incandescentes

Chove lá fora
e eu me aqueço no calor da língua tua, quente,
enquanto as nossas palavras de carinho evaporam 
e embaçam os vitrais dos teus olhos. 

Pudesse eu te chamar pelo que sinto 
quando meu corpo toca o teu,
te chamaria mistério, 

Mas como admirador 
da tua voz e das tuas formas, 
só cabe a mim chamar-te minha. 

E os segredos meus
nas trevas minhas entranhados
Ei de os revelar no relento do teu dorso
e no repouso dos teus ouvidos

Quantos desejos cabem dentro de ti?
talvez a noite saiba, mas silencia
por que do silêncio ao infinito é quase uma vida
e uma vida é curta demais pra nós dois

E o fogo que levamos dentro de nós
nos lençóis incandescentes desacreditados
são testemunhas mortas de nosso vivo descaso
com o mundo e com as regras pueris

Só o tempo indecente que rege nossos gestos
pode eternizar as nossas alucinações
suspendê-las no ar
e trazê-las de volta num toque, num gesto
num olhar 

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Criança

Feita em 10/01/2012

Criança, felicidade árdua no peito juvenil
As tardes tão febris de puro sonho
O desencontro com a tristeza
E beleza singular de ser feliz

Criança, e a mágica de um sorriso
O precipício da inocência
A ponto de almejar a insípida adolescência
De futuros destruídos.

Criança, somente por ser belo
Esse encontro paralelo de medo e dor
Por querer ser o elo da simplicidade e do amor
Por querer sonhar de olho aberto

Criança, pra nunca dizer amanhã
Sentir o afã de ser o que quer
Viver lado a lado com a fé
Como se ela fosse de fato companheira e irmã

Criança, somente por ser
E deixar acontecer os milagres da vida
Cessar esta procura por uma saída
Parar de tentar entender.

Transição

(15/12/2011), nos corredores do IFRN, zona norte

Em extremos minha alma se lança
Sem medir na balança o peso do erro
Descobrindo os segredos de um medo que emana
E nos olhos dilui todo brilho de um céu negro

Minha poesia cativa é acalanto
Entre os tantos entretantos do escárnio
Descompassado e remetido no pranto
Pelas dúvidas nas quais eu me indago

A loucura das tardes conhece meu sorriso
E o meu suplício eu ofereço a noite escura
E despida de nuvens, a luz rega meu recanto
Nesse meu estado de espanto mesclado de candura

Toda essa melancolia exalando dos meus poros
E a alegria vez por outra nos meus jovens olhos
Entendo por serem o desamor, a juventude, rude,
Remoendo o que já é destroço

Amantes (27/01/2012)

É novamente o fim do ato! Os lençóis, como  cortinas, declaram um novo fim, banhado de luz, suor e desejo...E eu me envolvo em teus braços num ato furtivo, improvisado. Nossos corpos se enlaçam e se unem, nossas almas se despedaçam e se regeneram de forma que, a cada raiar de dia, já não somos mais os mesmos.E as vezes deixamos até mesmo de existir, restando apenas este nosso amor despreocupado. E quando nos unimos, finalmente, num êxtase que beira o nudismo do ser, eu fecho os olhos, repouso tua cabeça em meio peito e recomeço a acreditar na felicidade.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Olhando no rosto da solidão

Solidão de tão presente
Já não mais parece um mal
Tornou-se tão logica e consciente
Que enxergar o fim antes do começo
Pouco a pouco tornou-se normal

Solidão de tão serena
Faz caricias em meu coração
Enquanto a alma se envenena
A razão chega a ter pena
Da ingenuidade da emoção

Solidão de tão oculta
Nesse muito tempo, só lhe vi a sombra
Seu rastro no estilhaço da bruma
Seus paços grafados na espuma
De um mar que inspira e assombra

Solidão de tão voraz
Escarnece a tranquilidade dos meus pensamentos
E tudo que um dia foi paz
Tenho a certeza, ficou para traz
Com o resto dos meus sentimentos


Amizade Pura

E tudo além do que é longe, é sincero
Todo sentimento por menor que seja
Se resistir ao tempo, é um presente
E nunca mais se fica ausente, distante
Os pensamentos nos eternizam a cada instante
Amizade pura,
Vontade de ficar perto, e que perdura constante
Conversas sem nexo, risos fáceis, elogios soltos
Como é bom encontrar tudo que se precisa de graça,
Tudo ali sendo entregue na praça da nossa alma
No largo da amizade, na rua da saudade,
Sentados no banco do reencontro
No recanto pronto das coisas boas e honestas, dispostas
E de repente o mundo não tem mais pergunta, não tem mais resposta
Não tem nada além do ombro alheio,
Da vida alheia já tão nossa
Dar as mão e dançar na roda

Na ciranda da amizade 

O Hóspede


Entre,
Sempre sente o sinta
Veja ou seja a sina
E se lhe anima, tente

Coma,
Descanse a sombra, a sobra
Tua fama é tua fome
De nada muda a sobra no prato, na prática
A gula desesperada do homem

Descanse,
Cante um canto, um conto,
Dance um tango sozinho,
E Deslize no azulejo
Sensível ao toque dos desejos que tua mão desenha
Se encante com o reencontro,
E se espante.

Levante,
Liberte as palavras que cortinam sua voz
Seja um pouco de você, seja um pouco de mim
Seja um pouco de nós a sós
Minha porta à parte faz parte
Do destrave, da tarde
Do aceno, dos pôr- dos- sois

Siga
Segure a viga do tempo sobre os ombros
Sublinhe o rascunho dos seus desencontros
E desinteressadamente volte mais pra perto
Pretenda ser de algo correto, mesmo que seja incerto
Mais se insira discreto no sonho de alguém
Alugue um coração e viva bem,
E volte quando quiser sorrir sem ninguém em volta
Pois a volta, só a gente sabe onde acaba

Em exatos dias, minutos, segundos e hora