quarta-feira, 24 de abril de 2013

Eu sei que chove


E agora chove
Eu sei porque tem chuva no meu cabelo
Tem chuva na minha mão
Tem chuva na minha roupa
Tem meu cachorro molhado na chuva
Tem pedaços de livro de autoajuda
Tem o lençol de papelão se rasgando
Por baixo da goteira no telhado de Brasilit
E eu faço uma prece a Deus
Minha prece diluída na água fluida dos meus olhos
Há de encontrar-se com as aguas, que um dia
Voltarão para o céu
Meu irmão mais novo chora com medo dos trovões
E no clarão do relâmpago ele vê meu sorriso e se acalma.
Com meu irmão enlaçando minha cintura com os bracinhos finos,
Olho pro horizonte cinzento da avenida
Está tudo escuro, tudo quieto, tudo morto como eu de vez enquanto
Ponho a mão no único bolso de minha calça que não é furado,
Coço os pelos no rosto, pensando na vida
Penso em sina, penso em morte, penso em ter sorte
Mas eu só tenho fé, só tenho pé na estrada
Corpo na chuva, barriga na aridez da miséria
E é só uma chuva, como todas as outras
Muitos dormem tranquilos, e eu, molhado.



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