quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Remédio a Polvora e Sangue

    A respiração atritada contra o frio tecia a sua volta uma cortina gélida. Mirava os olhos tristes e quase sem vida que lhe dirigiam um pedido de misericórdia. As mãos trêmulas buscaram algo dentro do casaco, e quando encontrou o que tanto queria, se puseram para fora da roupa,  empunhando um arma, que reluzia contra o filete de luz que escapava da avenida central, e que adentrava naquela viela onde agora estavam.
    Por um momento sentiu-se um Deus, por ter a certeza de que a vida daquele pobre ser que rasteja no chão era sua. Puro devaneio de quem se encontra entre a dor, o ódio e a loucura. Tentou por muito tempo achar a cura para aquele desejo insaciável, não encontrou, e desde então, seu remédio sempre teve gosto de pólvora e sangue. Inconstante desde sempre, encontrara finalmente na vida furtiva da noite a inspiração para a forte ausência de sentimentos que tinha, graças ao mundo.
    Os olhos banhados em lágrimas pareciam ter a certeza de que estava perto do fim a vida que os regia. Um grito seco, um estampido cortando a noite, um corpo caído em mais uma de muitas ruas escuras da cidade. Finalmente parecia ter acabado com o único mal de sua vida, e agora com um sorriso no rosto, deflagrava o sinal de que finalmente encontrara a paz que tanto quis. Luzes, carros e milhões de curiosos logo se amontoaram no local, mas agora já não poderia mais escutar nem sentir nada, finalmente havia reunido toda coragem que tinha para se matar.

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