quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Fechou os olhos...

    Fechou os olhos. As lagrimas iam caindo por sobre o seu rosto, tão devagar. Os pássaros que voavam por sobre o céu tinham um cantar penoso, quase como num lamento. Tudo parecia triste, tudo gritava pela vida, tudo e nada se confundiam no inconsciente como quem trava uma batalha. E as lembranças, numa permuta de escárnios e carinhos, iam forjando sua alma e preparando seu coração. O gosto de sangue ainda impregnava a sua boca, o cálice amargo da derrota, da humilhação, da morte. Já não sabia se aquela escuridão que agora habitava pouco a pouco em seus olhos, vinha do tempo que estava mudando, ou se era o seu tempo que estava acabando.
    Não demorou muito para que o vento secasse suas lagrimas, que os pássaros sessassem seu cantar, que tudo fosse finalmente silêncio. Não havia mais desejos e vontades, apenas espera e contentamento. Quanto às lembranças, elas só o ajudaram a perceber que havia perdido muito do seu tempo com nada. Antes, a condição na qual estava lhe seria tão honrosa: morrer no campo de batalha, defendendo a pátria. Mas agora que estava ali, lado a lado com a morte, sabia de que nada havia realmente valido a pena naquilo tudo.
    Lembrou-se dos tantos sonhos que teve, e da ingenuidade que o levou a pensar que, sendo um soldado, teria bastante dinheiro e tempo para se realizar. Agora estava ele ali, esquecido no meio do nada, o sol queimando seu rosto e corpo. O vento soprava-lhe areia nos olhos, a agua lhe faltava na boca: era a mãe terra o purificando, e ele aceitava tudo de corpo, mente e espirito, como quem entende das coisas irremediáveis.  E como num ultimo suspiro de saudade, quem sabe o único de sua vida, gritou o nome da mãe tão alto que o seu corpo se estremeceu por completo, enquanto sem pudor, a saliva que vertera em sague, lhe escorria pelo canto da boca.
    Depois, era o fim. Nem uma voz, nem um cantar, nenhuma lagrima, somente a inocência de um corpo sem vida, estendido no chão, os braços abertos, de certo na espera de um único abraço, que nuca veio. Os olhos continuaram abertos, na espera de reencontrarem a luz da vida, mas já era tarde demais. Um brasão no peito, uma arma na cintura, e uma alma perdida no infinito das horas, descompassadas e simples. O sol exuberante deu o seu lugar a chuva, que veio tão de repente quanto o choro de uma criança. As sombras das nuvens foram encobertando o corpo, apaziguando o calor de um simples homem, de um coração sonhador.

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