quinta-feira, 21 de junho de 2012

Tarde de Setembro


Eu lhe espiei por trás da porta por alguns segundos: ela estava dormindo ainda, um rosto tranquilo, como o de quem alcançou, finalmente, seu tão desejado sonho. Em minhas mãos eu levava as flores que lhe daria de presente, e confesso que por alguns minutos, olhando para aquelas flores aparentemente tão comuns como outras quaisquer, eu me peguei a lembrar de absolutamente tudo que havia acontecido até aquele momento, até aquele estado perpétuo de felicidade.
Entre nós não havia quase nada. Talvez um amigo em comum ali, outro aqui, e mais nada além. Havia também mil motivos para que, naquela tarde chuvosa de setembro, eu não houvesse ido aquele show, de uma banda que escutava tanto quando era jovem e que, por motivos que agora desconheço, esqueci, e também isso pouco importa agora, no futuro. Lá estava eu, o garoto magricela, vestido de preto, cabelos grandes e para contrastar com todo esse estilo ousado de rockeiro, a timidez. Do outro lado, lá estava ela, retraída num canto qualquer daquela praça, tirava algumas fotos do show, e nada mais. Aparentemente, nada em comum, mas quando se pensa que a vida vai continuar monótona, ela aparece de repente com uma novidade drástica, e no meu caso, veio com aquela canção.
Era mais uma daquelas canções melosas, românticas e intensas de Love Metal que todo mundo curtia e que, de uma hora para a outra, fez nossos olhares se cruzarem. Dai por diante, foi àquela inquietude dentro de nós, ou ao menos dentro de mim, aquela que só sentimentos sinceros trazem. Fomos aproximando-nos, primeiramente sem muita intenção, depois, movidos como que por uma necessidade. Por um momento, fiquei em duvida se aquilo tudo era parte da realidade, se era um sonho ou se eu poderia estar dentro de mais uma telenovela, mas era a vida real, era o amor real daqueles que não se explica, mas apenas nos surpreende.
Voltei à realidade, e já não sou mais um garoto de 17 anos, cheio de vigor. Esse lugar não é a velha praça dos shows vertiginosos, mas a garota continua aqui, linda ao meu lado, eu não a chamo mais de “a garota”, e sim de mulher. Eu não acordo mais cheio de duvidas, acordo feliz ao lado desta que me roubou vários olhares naquela tarde de setembro, e que agora inspira todas as minhas canções e poemas. Eu não lhe entrego flores, eu me arrisco na expectativa de me deslumbrar mais uma vez naquele sorriso e naquele beijo que há 20 anos atrás me conquistaram e ainda continuam me conquistando, por que não há amor sem felicidade, e o sorriso é um aceno da felicidade. Eu toco mais uma vez a nossa canção, no violão velho da juventude, sentado ao seu lado, olhando nos seus olhos, e somente no olhar um do outro, somos enfim, completos.

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